terça-feira, 22 de dezembro de 2009

...dianoia...

AzazelTopia

RT @physorg_com Machine Translates Thoughts into Speech in Real Timehttp://www.physorg.com/news180620740.htmlabout 2 hours ago from webRetweeted by you

…cursum sapientae est logos spiritu aerium… lithos verbum…

...when the “Sophist” (Plato) uses the term dianoia he establishes an identity between thinking and speech, to the “Sophist” the only thing that distinguishes dianoia from logos is the fact that dianoia is the inner logos that the soul (alma, anima) has with itself and that because of that received the name of thought (pensamento, cogitatio).

maria odete madeira

domingo, 20 de dezembro de 2009

...o aí-do-ser...

Por: Maria Odete Madeira

A antecipação do futuro, a recuperação do passado e a abertura do presente constituem, no pensamento de Heidegger, experiências da descoberta humana do sentido do ser do Dasein, a saber: a sua temporalidade, o aí-do-ser , o topos da descoberta do ser, posto na existência enquanto ser-o-aí, ou seja: ser ente, ser aquele, ou aquela coisa que se refere e aborda o próprio ser, enquanto diferença ontológica do mesmo ser projectada para o futuro antecipado… perdendo-se na decadência do presente que vive a angústia de ter sido.

sábado, 19 de dezembro de 2009

... rastos e restos...

Por: Maria Odete Madeira

Ambiguidades referenciais e códigos transculturais deslocam-se nas sociedades online, através de populações invasivas e evasivas de memes híbridos, fragmentadores, turbulentos, truculentos e virulentos.

Visões e alucinações de neurónios e sinapses desdobram-se em prismas manipuláveis, num duplo jogo projectivo delirante de autonomias e heteronomias.

Signos, símbolos, ideias, conceitos e preconceitos são permanentemente actualizados, em múltiplas e ambíguas versões, traduções, exemplares e cópias, arrastando consigo paisagens de significados rizomáticos e acidentados, apoiados em suportes diferenciais, cartografados por redes de rememorações transfiguradas e reconfiguradas, assimiláveis a rastos de restos…

Passantes e errantes, geneticamente dobrados, atomizados, virtualizados, empacotados e destinados a espaços acelerados, pulverizados por avalanches metamorfoseantes de informação, nós todos: entes, entidades ou coisas somos e estamos aí perante o mundo e perante nós, percepcionados e interpretados como sistemas de rastos de restos que circulam, em interface de sobrevivência, pelos intervalos da criação que o criador parece ter esquecido.

Se o mundo for um efeito do cálculo divino…, haveria mundo se o cálculo estivesse correcto, completo, acabado, perfeito, esférico?! Haveria mundo sem o rasto do resto do cálculo divino?

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

…,hipertextualizando…,

Por: Maria Odete Madeira

Quaisquer dinâmicas hipertextuais dependem de redes sintácticas/semânticas formativas, vinculadas a situações de uso, comprometidas com referências comunicacionais rotativas, deslocadas por topologias multitemporais híbridas, condicionadas por valores de referência, em processos de radicularidade eidética com efeitos pragmáticos ao nível das eficácias, em processamentos cognitivos, dos quais não se exclui ontologias de risco sistémico.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Ser sujeito...

Por: Maria Odete Madeira

A tradição filosófica ocidental está profundamente enraizada na noção de sujeito. Diz-se de um indivíduo humano que o mesmo é, também, um sujeito e, assim, um referente em permanente interface relacional cognitiva.

Ser sujeito é estar em permanente actividade relacional reflexiva projectiva. A produção de subjectividade faz-se intersubjectivamente, sem se dissolver nessa intersubjectividade.

Aquilo que em cada sujeito humano é designado por identidade e pessoalidade, disponível desde o nascimento e que inclui os elementos da história de cada sujeito, em permanente interface com o meio, baseia-se nas memórias autobiográficas dos respectivos sujeitos, construídas ao longo dos seus anos de vida e sempre condicionadas pelos limites genéticos, relacionados com as condições iniciais originantes que determinaram a topologia individuante de cada um.

Cada indivíduo é único na sua subjectividade e é como tal que deve ser referido, ou seja, naquilo que originariamente o põe em movimento como comportamento aberto aos outros indivíduos, aos objectos, às coisas e ao meio com os quais (e o qual) interage.

Quando pensamos em conhecimento, temos, igualmente, de pensar em noções de subjectividade, dobradas nos processos cognitivos, com efeitos observáveis aos níveis da criatividade e diversidade, implicadas no crescimento e desenvolvimento do mesmo conhecimento.

Os diferentes e diversos sinais que trocamos permanentemente uns com os outros, de forma explícita ou implícita, solicitam a nossa capacidade de antecipação e projecção, a partir de formas particulares de percepção que (co)envolvem acções, objectivos e estratégias.

Somos capazes de extrair, armazenar, avaliar, comunicar e debater conhecimentos ao nível do grupo social (Changeaux, 2002), assim como estamos disposicionalmente dotados não só para captar sinais provenientes de várias origens como para os processar, transformando esses sinais em conhecimento.

Deste modo, cada organismo humano, enquanto posição rotativa de si, permanece num estado de abertura, a partir do qual capta e regista, perspectivicamente, todos os sinais que descrevem as relações do mesmo organismo (de cada organismo) com tudo aquilo que lhe é exterior, sendo consideradas, também, nessas relações, as reacções orgânicas que ocorrem durante o processo, transformando, assim, em conhecimento as relações interactivas e dinâmicas, sinalizadas e captadas em processos e situações que (co)envolvem acções, reacções, decisões, estratégias e escolhas.

Todo o acto cognitivo é acerca de uma ou mais relações, e, assim, é sempre uma abertura para a presença de algo, alguém ou alguma coisa.

Este acerca de nunca é neutro, está projectivamente comprometido e condicionado por e com uma intencionalidade que aponta para uma relação sinalizada.

Apontar é também um orientar-se para coisas, situações ou processos aí no mundo, nos seus modos de existência em relação uns com os outros e com o próprio mundo (Heidegger, 1969).

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Claude Levi – Strauss..., algumas citações...

“Nunca tive, e ainda não tenho, a percepção do sentimento da minha identidade pessoal. Apareço perante mim mesmo como o lugar onde há coisas que acontecem, mas não há o «Eu», não há o «mim». Cada um de nós é uma espécie de encruzilhada onde acontecem coisas.”

“Desde criança que me senti incomodado pelo irracional e, desde então, tenho tentado encontrar uma ordem por detrás daquilo que se nos apresenta como uma desordem.”

“Assim, se o mesmo absurdo se viesse a repetir uma e outra vez, e outro tipo de absurdo também noutro local, então isso seria uma coisa que nada teria de absurdo; se fosse absurdo não voltaria a aparecer (…) Esta foi a minha primeira orientação, e cifrou-se em descobrir a ordem por detrás desta aparente desordem.”

Claude Levi – Strauss in “Mito e Significado”, pp. 14; 22; 23

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Will we ever be able to schematize a plenitude?

By: Maria Odete Madeira

…The radical evil is out there…, for that "the bell tolls for us"…

Will we ever be able to schematize a plenitude?

Plenitude (Plenitudo) signalizes totality (totum).

The Good (Bem, Bene) signalizes plenitude and perfection.

The harmony between the concrete being and its eidos is plenitude and perfection.

The Good is the coincidence between the being and the must be.

The Good is the coincidence between that which some thing is and that which that same thing must be.

Will we ever be able to schematize: good, plenitude and perfection?

Will we ever, us humans, be able to make coincide the being with the must be?

And what about death and suffering? In the light of the eidos of Justice, are death and suffering just? Can death and suffering be called examples of Good?

Particular extreme situations, depending upon the person, can make emerge feelings and extreme practices of altruism, accompanied by feelings of elevation that can give access to planes of Good that help people become better persons, in the sense of acting in conformity with the eidos of Good (Bene).

However, the perception of the eidos of Good does not have to pass by particular extreme situations, it can happen when one is still very young and in a spontaneous way, in a simple looking at the world, in a simple looking at the suffering of the others.

One can approach the perception of the planes of Good, in relation with the reflexibility of which the Cosmos, itself, and all the things in it, are gifted.

sábado, 31 de outubro de 2009

"Jesus transformou-o num Deus de amor"

“ (…) Um Deus cruel, vingativo, invejoso, com todos os defeitos do mundo, que é o Deus do Antigo Testamento, Jesus transformou-o num Deus de amor. Deus de compaixão. Esse foi o grande milagre de Jesus (…) pôr um Deus no lugar do outro.”

Saramago, in Outlook, 24.10.2009

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Religare

A experiência da autonomia da obra sobre o autor é partilhada por muitos autores como uma experiência de existência fundamental, estendida até limites de pensamento em que se duvida se foi o autor que escolheu o objecto sobre o qual quer trabalhar, ou se foi o objecto que escolheu o autor.

A percepção, o sentimento, o chamamento do pensamento e da palavra acerca da obra, por parte da obra que quer ser dita, que quer ser conhecida, transcendem quer a obra, quer o autor para espaços relacionais holográficos de transcendência noosférica, em que a obra e o autor se interconectam num tempo aion de responsabilidade, permanentemente retomada num Kairos discursivo, disponível para um Khronos de ocasião evolutiva expandida, em que os signos que configuram a obra se abrem a novos significados, a novas percepções, sentimentos e interpretações.

José Saramago, no lançamento do seu último livro “Caim”, formulou algumas frases que certamente ficarão retidas nos sulcos das memórias de alguns de nós, como por exemplo: “A Bíblia é um manual de maus costumes”; “Lê a Bíblia e perde a fé”; “(…) antes, da criação do Universo, Deus não fez nada (…) decidiu criar o Universo (…) não se sabe porquê (…) nem para quê. Fez (…), segundo a Bíblia, o Universo em seis dias (…) só seis dias. Descansou ao sétimo. Até hoje, nunca mais fez nada. Isto tem algum sentido?”

Para além das frases acabadas de citar, existe uma outra frase cuja intensidade não deixará de ser projectada e trajectada para planos noosféricos permanentemente disponíveis para um Khronos de ocasião evolutiva, a saber: “Eu tenho uma convicção profunda de que os livros dizem ao autor como querem ser escritos”.

http://aeiou.expresso.pt/saramago-a-biblia-e-um-manual-de-maus-costumes=f542180

http://www.youtube.com/watch?v=Vd3GBaZNtAw

sábado, 10 de outubro de 2009

Auto-referência

Auto-referência é a capacidade que um sistema tem de se dirigir a si mesmo, em si mesmo, enquanto posição de si mesmo.


"The mathematical theory of categories (category theory) thinks the mathematical

object as an individuated system, thus, in a relation of motion from itself to

itself, in itself (coincidentia, cum+incidere), which defines the object ’s identity."

"(...)origin and target , it points towards itself and it is pointed at by itself, in its identity, the end and the beginning coincide, in the same object , and, in this sense, one is before a self-reference."


"Now, once we consider the number 1, as such, we must also consider it in its

permanent rotative coincidence with itself, in itself. The number 1, as such, is,

indeed, in a permanent rotative coincidence with itself, in itself, otherwise the

number 1 would lose its integrity. This is the same for any other number. It

becomes pertinent, here, to recover the primitive philosophical notion of eternity,

disambiguated from the various historically coupled religious senses.

Eternity (aeviternitas, aeternitas) has the original and originating meaning of

absolute permanence with itself that each thing, considered as an existent and

totally present in each moment, has, be this thing an abstract or concrete entity."


quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Autopoiesis...

Por: Maria Odete Madeira

A partir de uma fronteira, de uma estrutura interna e de uma organização disposicional, dependentes das condições formativas iniciais, cada agente, ou sujeito, ente ou entidade constrói as suas próprias regras, a partir das quais interage, interpreta e transforma em conhecimento útil para si quer as informações geradas no seu próprio organismo, quer as informações captadas do exterior. Neste sentido, podemos falar de auto-referência e de auto-organização, ligados à produção de conhecimento e, deste modo, também, de autopoiesis.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

John Donne - Meditation 17

Sincronia, do grego syn+khronos: relação altruísta entre ritmos, diversos e diferentes, sincronizados numa tecitura sistémica.

Synchrony, from the Greek syn+khronos: altruistic relation between rhythms, diverse and different, synchronized in a systemic weaving.

...//...
John Donne
Meditation 17
Devotions upon Emergent Occasions

"No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main. If a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a promontory were, as well as if a manor of thy friend's or of thine own were. Any man's death diminishes me, because I am involved in mankind; and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee..."

"Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar dos teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do género humano, e por isso não me perguntes por quem o sino dobra; ele dobra por ti..."

sábado, 19 de setembro de 2009

Asfixias...

“Asfixia democrática” não é o mesmo que “asfixia da Democracia”. No assentimento de que a Democracia diz respeito ao “exercício justo” do poder político, obtido através do voto de uma maioria de cidadãos, então um “mecanismo de asfixia democrática” pode ajudar a Democracia a defender-se dos seus “inimigos”. Mas o “curioso” e “espantoso” é que jornalistas, comentadores, políticos, etc… insistem no termo sem o criticarem: assumindo que “asfixia democrática” é o mesmo que “asfixia da democracia”. Como é que pode haver um desconhecimento tão generalizado do Português básico?
Na frase: “ asfixia democrática”, o termo asfixia tem o lugar do sujeito e o termo “democrática” tem o lugar do atributo do sujeito. Um atributo (do latim attributu) significa aquilo que é próprio de alguém, ou de alguma coisa.
Por sua vez, democrática é um adjectivo com raiz em “demos” que significa povo e “kratos” que significa “força” ou “poder”.
A frase sinaliza a existência de dinâmicas de asfixia que são democráticas, ou seja, esta asfixia, enquanto mecanismo activo de operatividade sistémica, pode, e deve, ser abordada como uma “asfixia justa”, considerando-se que a Democracia, geneticamente oposta a Aristocracia, diz respeito ao “exercício justo” do poder político, obtido através do voto de uma maioria de cidadãos.


sexta-feira, 18 de setembro de 2009

"Um búzio"...

“Um búzio

É uma onda que parou

Mas que guardou o som do mar

O vento…

Canção do cancioneiro que vibrou

A voz que chora, a voz que sou

Lamento”

Eleutério Sanches, Búzio (1960) in Serenata Luanda II, Editorial Nzila, Luanda, 2008

sábado, 22 de agosto de 2009

"Do Riso e da Loucura"...

“Um perigo da maior gravidade paira neste momento sobre a nossa cidade, Hipócrates, ameaçando um dos nossos cidadãos, em quem depositávamos as nossas esperanças para glorificar a cidade, agora e para todo o sempre.

Por certo, neste momento, ó grandes deuses!, ninguém o invejará, pois tornou-se enfermo por força da grande sabedoria que possui; daí que seja lícito existir um grande temor de que se Demócrito perder a razão, a cidade de Abdera fique inteiramente abandonada.

Começando por se esquecer de tudo e até dele mesmo, Demócrito permanece agora acordado noite e dia, descobrindo em qualquer coisa grande ou pequena motivo para rir e julgando que a vida não tem qualquer valor.”

In Hipócrates, Do Riso e da Loucura, Padrões Culturais Editora, Lisboa.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Ordinem rerum

“Ordinem rerum, Zenobi cum sequi ac tenere cuique proprium, tum uero uniuersitatis, quo coercetur hic mundus et regitur, uel uidere uel pandere difficillimum homnibus atque rarissumum est” (Saint Augustine, De Ordine, Liber Primus).

To follow and observe the order of the things, Zenobe, that order which is proper of each one, and to see and make clear that order that regards the set, that contains this world and governs it, is very much difficult and rare for the men. (A translation that was adapted to a better reading and comprehension.).

Seguir e observar a ordem das coisas, Zenóbio, a que é própria de cada um, e ver e tornar clara a que respeita ao conjunto, que contém este mundo e o governa, é muitíssimo difícil e raro para os homens.

domingo, 14 de junho de 2009

yawning gap...

Por: Maria Odete Madeira

“Silêncio Eu ofereço para todo o parentesco abençoado (…)”

"Nos primeiros tempos Ymir viveu:
Sem mar, sem terra sem ondas salgadas, nem havia Terra, nem o céu acima,
Mas um penoso vazio, e verde não havia em parte alguma."
Ancien Edda


“Of old was the age when Ymir lived; Sea nor cool waves nor sand there were; Earth had not been, nor heaven above, But a yawning gap, and grass nowhere”
Poetic Edda


It is a non-presence… it is the simulacrum of a presence.
It displaces itself, transfers itself, resends itself.
The erasing belongs to its constitutive structure.
It is the erasing that drags and reinscribes it as a false entrance… as a false exit… and still part of the game, function of the system, structural relation to the other… to the others… to whatever presences… structural relation to whatever absences.
It is the transcendental monadic neutral element… omnipresent, projective, non-geometrizable… it is the Nothing… it is the Being… it is an interval… it is an opening… it is... “yawning gap”.

É uma não-presença… é o simulacro de uma presença. Desloca-se, transfere-se, reenvia-se. O apagamento pertence à sua estrutura constitutiva. É o apagamento que o arrasta e reinscreve como uma falsa entrada… como uma falsa saída… e ainda parte do jogo, função do sistema, relação estrutural ao outro… aos outros... a quaisquer presenças… relação estrutural a quaisquer ausências.

É o elemento neutro transcendental monádico... omnipresente, projectivo, não-geometrizável… é o Nada… é o Ser… é um intervalo… é uma abertura… é... "yawning gap".

segunda-feira, 1 de junho de 2009

textos e hipertextos

Por: Maria Odete Madeira

Mitos, sonhos, racionalidades, crueldades e dignidades cruzam-se nos fluxos de redes computorizadas, deslocando padrões caleidoscópicos de neurónios e sinapses. Pontos e teias mórficas, actualizados(as) em múltiplas versões, traduções, edições, exemplares e cópias.

Cada ponto e cada teia compõem uma paisagem semântica, articulável, móvel e acidentada. São as palavras dos outros, são as nossas palavras, são os fragmentos que associamos, sentidos que descobrimos e outros que apagamos, passagens que conectamos e outras que desconectamos e são os espaços brancos que com indiferença olhamos, mas que sem os quais não haveria texto, textos. Textos onde legitimidades, legalidades e interditos se misturam, abrindo caminhos a hipertextos em que linearidades se quebram e texturas de sentidos se cartografam, constituindo reservas estratégicas projectivas, múltiplas, disponíveis, reconfiguráveis e silenciosamente estruturantes.

O que são hipertextos? São textos produzidos a partir de textos iniciais dos quais se constitui reserva textual arbitrária projectiva, metamórfica, disponível, trajectiva, estratégica, memética, mimética.


domingo, 17 de maio de 2009

Exsistere, sistere, exsistentia, existência

Por: Maria Odete Madeira
Exsistere, sistere, exsistentia, existência: realidade, ser, vida, presença. Existência denota origem, (arché), no latim clássico significa mostrar-se, aparecer. A existência é o topos irrecusável de cada presença, o lugar de cada corpo.

Impondo-se graviticamente a cada ente ou entidade que é presente no mundo, a existência sinaliza um carácter projectivo de necessidade (agakh, necessitas), replicador de um eidos de permanência.

Todos os entes ou entidades estão ou são na existência, (co)existindo num complexo sistema de referências, reflexivamente projectivo, radicularmente incorporado no topos sistémico rotativo de cada ente ou entidade como a sua (de cada um) possibilidade nutritiva.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Sobre o Virtual e o Real

Por: Maria Odete Madeira

O virtual, do latim virtualis com origem em virtus que significa força ou potência, incorpora disposicionalmente, enquanto diferencial constitutivo rotativo, cada existente, seja esse existente um processo, situação, ente ou entidade.

Estruturalmente constitutivo, o virtual pode ser abordado, interpretado e compreendido, a partir dos pontos, ou marcadores, rotativos que configuram as relações diferenciais (co)implicadas, deslocadas na teia gravítica composta pelo real virtual, ele mesmo, e pelo real actual, ao qual o real virtual, irredutivelmente, se opõe.

O traçado é local, região a região, passo a passo, cruzando o situacional com o processual: linhas que ligam uma região a outra, traçadas pelas multiplicidades actuais e virtuais, que constituem a teia gravítica do real sistémico, ele mesmo, e a partir das quais o actual e o virtual traçam os seus circuitos dinâmicos, coexistentes e relacionais, de permanentes reenvios.

A partir do momento em que é possível pensar o virtual e o actual, enquanto opostos individuados, torna-se pertinente identificar a linha de fronteira que os separa.

Segundo Deleuze, (Mille Plateaux), a distinção entre o virtual e o real corresponde a uma cisão fundamental do Tempo: aquela, na qual, inserido na configuração do tempo presente, o passado se separa trajectivamente do mesmo presente, segundo valores variáveis críticos que formam, num espaço, uma fronteira sinalizada por uma descontinuidade, em que um sistema “salta” de um estado de equilíbrio para outro.

A fronteira entre o real actual e o real virtual tem o seu sítio nas linhas quebradas que podem ser descritas pelas variáveis, medidas por um tempo contínuo e unidireccional, as quais correspondem a momentos, referidos a tempos presentes. O real actual pode ser geometricamente capturado e descrito, enquanto o real virtual escapa a qualquer tentativa de captura geométrica que o exemplifique, podendo, apenas, ser descrito como agenciamento dinâmico não-geometrizável, no sentido em que as figuras se formam em fluxo permanente geridas por uma ontologia de passagem, cuja brevidade e complexidade de ligações escapam ao processamento cognitivo do observador humano.


O agenciamento é o co-funcionamento, é a «simpatia», a simbiose (Deleuze, Mille Plateaux). Num agenciamento há entes, ou entidades correlacionados(as) que podem ser físicos(as), biológicos(as), psíquicos(as), sociais, verbais ou verbalizáveis; e relações: relações de movimento e repouso, de velocidade ou lentidão, linhas flutuantes de Aiôn, cruzadas com as linhas fixas de Chronos, graus de potência, afecções e afectos.

terça-feira, 21 de abril de 2009

ser é ser com os outros, ser é ser entre os outros

Por: Maria Odete Madeira
O dizer do dito é, ele mesmo, um redizer assimétrico irredutível de proximidade relacional do outro ao mesmo e do mesmo ao outro, deslocador de uma (co)presença e (co)existência sistémica(s) de visibilidade intencional: a visibilidade do outro, dos outros, dos rostos, da diferença, das diferenças: a ontologia iterativa e interactiva do mostrativo, do monstrativo, do demonstrativo, do posto, do exposto (co)implicado(s) e (co)explicado(s); a ontologia da verdade relacional deslocada, da justiça, do bem, da ordem, em que o dizer do dito é, ele mesmo, o redizer da diferença irredutível como (co)presença: a presença do(s) outro(s), a presença do(s) mesmo(s).

Ser é ser com os outros, ser é ser entre os outros. A iteratividade e interactividade da presença introduz a (co)responsabilidade pela(s) diferença(s). A ressonância projectiva do verbo desloca o dizer e o redizer da responsabilidade, ela mesma, como presença e diferença deslocada do dizer do dito–ressonante–rotativo–original–pré-geométrico–assimétrico.

sábado, 11 de abril de 2009

vulnerabilidade - subjectividade - erro


Quer em termos científicos, quer em termos filosóficos, é legítima a afirmação de que todos os organismos são agentes/sujeitos produtores/criadores de conhecimento e de que todo o conhecimento incorpora a natureza subjectiva disposicional e expectacional dos agentes/sujeitos que intervêm na produção de conhecimento, podendo falar-se de objectividade, apenas, ao nível das redes intersubjectivas.

Qualquer organismo vivo é um organismo em situação e em processo de permanente aprendizagem, mantendo com o seu ambiente uma interface activa/reactiva, suportada por mecanismos genéticos evolutivos que misturam diferencialmente o local e o global, dobrando e desdobrando teias gravíticas de acontecimentos, acções, reacções e interacções que se deslocam permanentemente codificando sinais informacionais que podem ser captados e transformados em conhecimento estrategicamente útil para a sobrevivência sistémica de cada organismo.

É robusta a afirmação de Popper de que todo o conhecimento é sempre o crescimento de um conhecimento já existente e nenhum enunciado é detentor de tal coisa como verdades absolutas, podendo apenas falar-se de conhecimento provisório e de melhores ou piores teorias.

A vulnerabilidade, enquanto proprium constitutivo activo ligado às dinâmicas homeostáticas de todos os sistemas vivos, pode ser abordada como um "operador" com causalidade a níveis da subjectividade directamente responsável pela produção de erro(s) evidenciado(s) em todos os processos cognitivos .

Todos os organismos vivos, sem excepção, aprendem a resolver os seus problemas de sobrevivência, através de tentativas e erro.

Considerar que existem detentores únicos de verdades universais pré-dadas, tomadas como referências redutoras classificativamente hierarquizantes, é pouco sensato, ou mesmo contra-adaptativo, se considerarmos os comportamentos predadores sustentados pelos discursos de poder, apoiados por dogmas pretensamente iluminadores/iluminados que arrastam irresponsavelmente a rede ecossistémica para situações de insustentabilidade planetária que põem em causa a sobrevivência de todos.

sexta-feira, 27 de março de 2009

knowings of power and discourses of power

By: Maria Odete Madeira

The calculation of the appearing, distribution, and hierarchization of the species allows a statistical (or statistregical) fragmentation incorporated in the multiple memetic and mimetic discourses of power, supported by biostrategical maxims such as: "for you to live the other must die".

Direct or indirect murder, such as the exposure to death, or the multiplication of the risk of death are the elements privileged by the mechanisms of biopower, supported by techniques and technologies of surveillance and infinitesimal controls, regulated by discursive markers, manipulated from statistregical supports, stripped of ethical contents, such as: the inalienable absolute value of life, the right to life, to the respect for the differences, the altruism, the empathy, the solidarity, the responsibility.

Multiple knowings of power, multiple secret knowings that confront each other and segment each other, at the pace of the biostrategical relations, ever more tensional and ever more stripped of ethical content.

terça-feira, 24 de março de 2009

acerca do sentido da História em Paulo Orósio

Por: Maria Odete Madeira

A experiência moral cristã incorpora um sentido inevitável de cegueira humana (Collingwood, A Ideia de História) inerente a toda a acção, esta ideia de cegueira traduz uma incapacidade humana constitutiva, dramaticamente vivida na interioridade da fé cristã, modeladora dos acontecimentos e da luta tensional, operada no seio dos seguidores da mesma fé, os quais seguem uma marcha, um percurso que terminará num juízo final. O pensamento do historiador cristão não se inscreve nos ritmos naturais e cíclicos do tempo, mas num ritmo e num projecto direccionado para um fim irreversível, pensado na interioridade subjectiva da fé.

O Tempo, no qual opera uma eficácia de declínio, uma emergência de catástrofe, é percebido com um sentido ontológico e denso de inquietação, polarizada numa dinâmica operativa de bem e de mal, ocorrido numa contingência perturbadora da radical vulnerabilidade de todos os entes, que, enquanto tais, existem aí no mundo.

Um sentido da existência de um em si universal, acoplado a um sentimento centrado na existência de uma ideia de um Deus omnipotente e omnisciente, organiza todas as acções dos homens na História, as quais, acreditam os seguidores da fé cristã, não foram planeadas pelos seus intelectos, mas, sim, pelo intelecto divino, projectado a partir de uma ideia de Deus, comummente partilhada.

Deste modo, é assumido que as forças que actuam na História não têm origem na vontade dos homens, mas, sim, na vontade de Deus. A sabedoria, incorporada nas suas acções, não lhes pertence, não pertence ao seu livre arbítrio. Para os cristãos, esta é a sabedoria de Deus, por cuja Graça os desejos dos homens são dirigidos para fins considerados dignos, a partir de uma ideia de dignidade preestabelecida.

Os povos e as nações são assumidos como uma criação divina e aquilo que Deus cria pode ser por Deus modificado e reorientado para novos fins, através da intervenção da sua Graça.

Assim, numa linha cristã, o processo histórico não é a execução das intenções humanas, mas dos desígnios de Deus, os quais são um objectivo que os homens devem incorporar nas suas vontades. Estes devem agir para um fim, a saber: o cumprimento da vontade de Deus.

Há um tempo próprio no pensamento histórico cristão que se relaciona com o tempo e a sucessão dos acontecimentos e, assim, tempo cronológico. Os acontecimentos duram, apenas, o tempo necessário ao cumprimento dos desígnios de Deus, ocorrendo, o processo histórico, no seu movimento de transformação, segundo um movimento radical de vida e de morte.

No pensamento histórico de Paulo Orósio (História Contra os Pagãos), há um sentido profundo desta dinâmica, pensada a partir da queda do homem e este sentido percebemo-lo como um operador mental, capaz de formar sentimentos conscientes de culpa universal.

De acordo com os dogmas cristãos, todos somos culpados e responsáveis por essa queda, da qual, apenas, nos podemos libertar pela Graça. A comunidade humana é, de acordo com o pensamento de Orósio, uma comunidade que precisa de ser educada, que precisa de se aproximar de um universal de perfeição, aberto a todas as diversidades discursivas, a todos os credos.

A esperança é marcada por um sentimento de presença: a Graça que opera na História, como um tempo oportuno, um Kairos divino.

Orósio releva o sentido histórico cristão de providência que se inscreve nos sentimentos dos homens. Cada momento da História é portador de uma intenção, de um desígnio que deve ser percebido e interpretado à luz do intelecto.

Para os cristãos, o grande acontecimento da história dos homens foi o nascimento de Cristo, os acontecimentos que lhe foram anteriores prepararam e culminaram na sua vinda, com Cristo nasceu uma nova era na história da humanidade, uma era de causalidade universal, destinada a operar nas mentes e nas vidas dos homens.

De acordo com o pensamento cristão, Deus queria revelar-se a todos, por isso, tornou possível a concentração do poder num só homem e numa só cidade, a saber: Roma. Era, de acordo com Orósio, preciso que todos os homens se reunissem à volta das mesmas leis, que fossem iluminados pela mesma fé num mesmo Deus, aquele que, de acordo com o mesmo pensamento, verdadeiramente os criou e, perante o qual, todos eram iguais na sua humanidade.

Cristo foi, para os seguidores da fé cristã, a presença do infinito no finito, a presença efectiva da unidade na diversidade. A partir do nascimento de Cristo, uma ideia de igualdade na diversidade e na diferença tomou forma. Todos os homens puderam pensar-se como a diversidade e a diferença capaz de se juntar numa mesma ideia de unidade, sem nela ser subsumida, a saber: numa ideia de comunidade humana efectiva, partilhando dos mesmos sentimentos morais e dos mesmos sentimentos de fé.

segunda-feira, 23 de março de 2009

O poder: natureza, tipologia, topologia

Por: Maria Odete Madeira

A partir de Foucault, podemos abordar o poder como um feixe circulante, em exercício organizado de relações em rede, no qual estão dobradas, ou implicadas, múltiplas posições, constituídas como pontos de aplicação dinâmicos e reticulares que transitam e transumam por todo o corpo social.

Enquanto realidade actuante, o poder constitui uma externalização das forças, relacionais e interactivas nele implicadas, naquilo que podemos denominar o seu objecto, ou ponto de aplicação, no qual produz, trajectivamente, os seus efeitos reais, caracterizados por uma não-localidade, constituída por cruzamentos de acções e reacções múltiplas que têm a sua própria história, o seu próprio trajecto e as suas técnica e táctica.

Esta não-localidade rejeita a possibilidade de subsumir, num centro único, as múltiplas e heterogéneas linhas relacionais que constituem o feixe trajectivo que resulta da movimentação heterónima, permanente, instável e local, estrategicamente posicionada em rede, dos pontos comunicantes que configuram o poder.

O poder, conforme Foucault, não passa de um efeito de conjunto, traçado a partir de pontos móveis desigualmente trajectados, nos quais se apoia, fixando-os.

O poder não é uma instituição e não é uma estrutura, não é um certo poder de que alguns seriam dotados – é, apenas, um nome que se atribui a uma situação estratégica complexa numa determinada sociedade e que não é pensável em termos de um qualquer protótipo replicador e ordenador que exista e subsista em si e por si mesmo.

O global é um efeito do local. Mudando a configuração do local, igualmente, muda, também, a configuração do global, o global é sempre configurado interactivamente, a partir de múltiplos pontos locais espalhados pela rede que desempenham nas relações de poder, o papel de adversário, de alvo, de apoio, de pretexto para uma intervenção.

Não há, relativamente ao poder, e de acordo com Foucault, lugar de grande recusa – alma da revolta, centro de todas as rebeliões, lei pura do revolucionário, mas, sim, várias resistências locais possíveis, que podem configurar topologias irreconciliáveis diversas, divergentes, discordantes que se deslocam como múltiplos pontos de acção/reacção que funcionam como marcadores binários de irredutibilidade: o frente a frente irredutível que introduz clivagens, quebra unidades e suscita adesões paradigmáticas.

domingo, 8 de março de 2009

Digitizing the Continuum

by Carlos Pedro Gonçalves

The reign of the digital imposes itself with the digitocracy over the continuum. The mathematical continuum, irreducible to the countable, is negated as interdict, as dangerous illegality.

Of mathematics, it is demanded a logocentered logicity, a reifying and imprisoning reduction that strives to reduce the semantic to the syntactic and, thus, extends the formal incompleteness to a semantics that does not possess it.

The mathematical intuition is substituted by the cold deduction that, incapable of scaling new horizons because it lacks imaginative capability, does not explore the mathematical idea and its apprehension by the mathematician that intuits it in a sensual immediateness produced by an imaginative synthesis, idea, itself, by nature, irreducible to a logical logocentrism, as Gödel proved it.

To scale new horizons… to think beyond the barriers of the code… dangerous activities… incompatible with a digitocracy extended to the mathematical activity itself. The formal language ceases being just an instrument of discursive organization and of formalization auxiliary to the proof, to become an instrument of thought control.

From abstractive auxiliars, the language and the formal system become instruments of alienation of the mathematical thinking itself, that, to think the formal, empty of semantics, loses its object of intentionality – the mathematical object, in itself, as abstract object of thought, which, as Gödel proved it, is irreducible to the purely syntactic, to the purely logical.

To digitize the mathematical continuum in the mathematical discrete means to abolish, from the thought, a universe of thinkable forms, to impose the limit of the digital, useful to an effort of computative mechanocracy in which the instrument of the number abolishes the analogical and, thus, the interval itself and the continuum. Without interval, without continuum, without shades, without infinitesimal differences, without empty spaces, thought as empty spaces because continua of nothing. End of the différance towards the end of the différence.

Even if different, digitized, we come to occupy the same houses in the bar codes in which we become, clones in our condition of slaves to the digit.

Badly interpreted Gödel’s theorem, to justify that the notion itself of mathematical truth is reducible to a logical validity, in a first step towards the algorithmization of truth, of geometry, of the continuum, of the interval, of the grey, of the individual as individual, separated from the rest, and non-slaved to the number… and non-slaved to a machine incapable of imagining, incapable of innovating, incapable of jumping outside the tyranny of the formal system, itself limited in itself and right from the point in which it deals with the numbers themselves and with simple arithmetic.

The end of the mathematician (second target), as well as the end of the philosopher (first target) are the two first steps to abdicate from our thought and from those natural systems of systemic homeostasis, thinkable as antibodies that protect us from the dictatorships of the formal and of the machines as ends in themselves.

sábado, 7 de março de 2009

Digitalização do Contínuo

Carlos Pedro Gonçalves

O reino do digital impõe-se com a digitocracia sobre o contínuo. O contínuo matemático, irredutível ao contável, é negado como interdito, como ilegalidade perigosa.

Da matemática, é exigida uma logicidade logocentrada, uma redução reificante e aprisionadora que tenta reduzir o semântico ao sintáctico e, assim, estende a incompletude formal a uma semântica que não a possui.

A intuição matemática é substituída pela dedução fria, incapaz de escalar novos horizontes, porque não possui capacidade imaginativa, não explora a ideia matemática e a sua apreensão pelo matemático que a intui numa imediatez sensual produzida por uma síntese imaginativa, ideia, esta, por natureza, irredutível a um logocentrismo lógico, como o demonstrou Gödel.

Escalar novos horizontes… pensar para além das barreiras do código… actividades perigosas… incompatíveis com uma digitocracia alargada à própria actividade matemática. A linguagem formal deixa de ser somente um instrumento de organização discursiva e de formalização auxiliar à demonstração, para passar a ser um instrumento de controlo de pensamento.

De auxiliares abstractivos, a linguagem e o sistema formal passam a ser instrumentos de alienação do próprio pensamento matemático, que, para pensar o formal, vazio de semântica, perde o seu objecto de intencionalidade – o objecto matemático, em si mesmo, enquanto objecto abstracto de pensamento, o qual, como Gödel demonstrou, é irredutível ao puramente sintáctico, ao puramente lógico.

Digitalizar o contínuo matemático no discreto matemático significa abolir do pensamento um universo de formas pensáveis, para impor o limite do digital, útil a um esforço de mecanocracia computativa em que o instrumento do número abole o analógico e, assim, o próprio intervalo e o contínuo. Sem intervalo, sem contínuo, sem matizes, sem diferenças infinitesimais, sem espaços vazios pensados como espaços vazios porque contínuos de nada. Fim da différance para o fim da différence.

Ainda que diferentes, digitalizados, passamos a ocupar as mesmas casas nos códigos de barra em que nos tornamos, clones na nossa condição de escravos do dígito.

Teorema de Gödel mal interpretado para justificar que a própria noção de verdade matemática seja redutível a uma validade lógica, num primeiro passo para algoritmização da verdade, da geometria, do contínuo, do intervalo, do cinzento, do indivíduo enquanto indivíduo separado dos restantes, e não escravizado ao número… e não escravizado a uma máquina incapaz de imaginar, incapaz de inovar, incapaz de saltar para fora da tirania do sistema formal, ele próprio limitado em si mesmo, e desde logo, quando lidando com os próprios números e aritmética simples.

O fim do matemático (segundo alvo), assim como o fim do filósofo (primeiro alvo) são os dois primeiros passos para abdicarmos do nosso pensamento e daqueles sistemas naturais de homeostasia sistémica, pensáveis como anticorpos que nos protegem das ditaduras do formal e das máquinas enquanto fins em si mesmos.

quinta-feira, 5 de março de 2009

humanidade

Por: Maria Odete Madeira

O reconhecimento intersubjectivo da humanidade, em nós, como um telos constitutivo supremo que a vida nos doou, compromete-nos responsavelmente com o direito e o dever de defender a nossa humanidade como um bem que é nosso, que é incondicional e que é inalienável.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

The New Democracy

By Carlos Pedro Gonçalves

When one thinks about Democracy one cannot help thinking about the role that it may have played in the birth of Philosophy.

The social, political and economic context of the Greek city-states, can be considered as having given way to what can be called the reflecting citizen.


The exercise of citizenship, the political experience as a reflexive experience of the polis, and the birth of Philosophy in Ancient Greece, may be thought to be connected. The exercise of building up an argument, of criticizing it, of questioning it, all become necessary in a democratic structure that is akin to that built up by the Ancient Greeks.

No democracy today approaches that of the Ancient Greece, the current democracies invite a different kind of social participation and reflection. The reflection that precedes the vote, the reflection of the public opinion manipulated by the mass media, the Country-state Democracy rather than the City-state Democracy found its apex in the 20th Century.

The Country-state Democracy does not invite to a reflection as the Ancient Greece Democracy, because the type of social structure that supports it impedes the citizen himself to exercise his citinzenship directly, there are various control mechanisms that prevent this.

First and foremost the fact that no citizen has a direct voice in politics, but only an indirect one through the elected officials that (miss)represent the citizens by serving the political and economic interests of themselves and of the groups that directly support them.

There are factors that serve to prevent a complete dictatorship of a small group, one of them, the most important one, being the fact that there are always different groups competing for power and countering each other’s moves.

The other control factor is the mass media that became a power structure capable of manipulating the public opinion, with effects upon the citizen’s voting direction, upon the divulging of corruption in the government (a good example was the Nixon scandal)...

But the mass media are inevitably non-neutral, becoming economic, politically and ideologically committed. The Citizen Kane and the Citizen Kane of Berlusconi, provide interesting examples on a reflection between the relationship of the mass media and politics.

The country-state democracy is a complex issue, the political decision ending up to be the best deal of the different groups of interest, and the only deal that the citizen can expect.

But despite the complexity there is a fundamental rationality that can be considered to be at the foundation of the country-state political experience, a mass rationality. This mass rationality characterized the bulk of the 20th Century... the mass market, the mass advertising, the mass media, the mass dynamics, the manipulable masses...

The masses are easily led, and can be led through the democratic scheme into a dictatorship. The country-state democracy is extremely vulnerable and amenable to dictatorship schemes, be them from the right or from the left.

Portugal constitutes a good example of both. After the end of Salazar’s right-wing dictatorship, there was the threat, during an extremely brief period of time, of a communist left-wing dictatorship.

There is also the democratic monarchies like Britain, these may seem to be more resilient than democracies against a dictatorship, given that they are not complete democracies to begin with (in Britain there is the figure head of the Royal Family to prevent the taking over of parliament, unless the Queen and her family were beheaded by an iconic new dictator).

The dictator needs to get rid of the iconic monarch, because the dictator must become the reference and the referent.

However, given the right social instabilities both monarchies and democracies can fall into an extreme dictatorship, and the examples of films like V for Vendetta or Fahrenheit 451, as well as Orwell’s Big Brother become frightening reminders.

However, all of these rest upon a rationality of masses, controlled and controllable.

We are now witnessing a new change in civilization and a new rationality – the web rationality and with it comes what may be the heralding of a New Democracy. Different names can be given to it... Web Democracy, Cyberspace Democracy, Hyperdemocracy...

The following article of El País deals with the latter term:

http://www.elpais.com/articulo/portada/porvenir/catastrofe/elpepusoceps/20090222elpepspor_9/Tes

In the new Civilization - the Web Civilization - we are no longer dealing with the simple masses of the 20th Century, we are dealing with a super-planet-wide-organic-web, where each node behaves in a complex way, and where the nonlinearities may amplify discourses and memeplexes.

In this new Civilization the exercise of citizenship becomes more intense and closer to the Greek. But this is not a city or even country-delimited exercise, it is global, planetary.

The idea that this new Civilization is amenable to a Big Brother is foolish, independently of how many surveillance mechanisms are used. The fact is that the web-based market needs the publishing of the individual experience to be fed, and this experience can spread, replicate. Real time critical reflection immediately spreads to the system without control.

The mass media have already lost their power, and with them the mass-based rationality. The past manipulation of the transmission of wars contrasts with the new web-based transmission of event recordings from cell-phone and private cameras, recordings that people post online before any control mechanism is activated.

Censorship becomes impossible in the new web-based rationality, the system is much too complex, but it is exactly that web-based complexity that makes the New Democracy unique in human history.


The phrase in the El País article that best expresses this is “interacción planetaria en constante transfusion” that is, planetary interaction in constant transfusion.

A local insignificant reflexive thought or argument discursively expressed through text, picture or video can spread to the web like a virus. The systemic clinamen and stand alone complexes become frequent in the new viral-web-rationality.

The new citizenship is not a mass citizenship, it is a web citizenship, where each individual becomes a citizen of the planet in a very literal sense, for the new polis is the planet itself.

Here, each citizen expresses himself or herself in his or her singularity, and there, on the planet, that expression finds an adhesion by others with similar experiences that are voiced together... and so it spreads...

Such a democracy is more resilient than the others. None of the control schemes that were used to silence the masses or individuals can be used here, no repression is possible without shutting down the web, and with it the planet. There is no head to cut, because the web has no leader and, thus, no head.

the value of dignity

by Maria Odete Madeira

"Obedient to the calculation, ignorant to that which cannot be calculated nor measurable, such as life, suffering, joy, love, honor, talent, the magnanimity, the consciousness, the good and the evil. (...) The economy can establish the rates of monetary poverty, however, it ignores the subordination, the humiliation or the pain that the poor experience (...)"

"Obedientes al cálculo, ignoran lo que no es ni calculable ni mensurable, como la vida, el sufrimiento, la alegría, el amor, el honor, el talento, la magnanimidad, la conciencia, el bien y el mal. Su sola medida de satisfacción viene a ser el crecimiento de la producción, de la productividad o de los ingresos monetarios. La economía puede establecer las tasas de pobreza monetaria, pero ignora la subordinación, la humillación o el dolor que experimentan los pobres, concluye Bernardo Kliksberg en Hacia una economía con rostro humano."

http://www.elpais.com/articulo/portada/porvenir/catastrofe/elpepusoceps/20090222elpepspor_9/Tes

"The sad business of Jade Goody"

"El triste negocio de Jade Goody"

http://www.elpais.com/articulo/sociedad/triste/negocio/Jade/Goody/elpepusoc/20090222elpepisoc_1/Tes

A pobreza… o sofrimento, a miséria humana tornaram-se um recurso, uma matéria prima… um produto… um valor de mercado e um bem económico…

O que é que estamos a fazer a nós mesmos e o que é que estamos a permitir que nos façam? Enquanto humanos e enquanto civilização o que é que nos resta… se até mesmo a nossa dignidade tem um valor de mercado?

The poverty... the suffering, the human misery become a resourse, a raw material... a product... a market value and an economic good...

What are we doing to ourselves and what are we allowing to be done to us? As humans and as civilization what is there that is left for us... if even our dignity has a market value?