quinta-feira, 23 de abril de 2009

Sobre o Virtual e o Real

Por: Maria Odete Madeira

O virtual, do latim virtualis com origem em virtus que significa força ou potência, incorpora disposicionalmente, enquanto diferencial constitutivo rotativo, cada existente, seja esse existente um processo, situação, ente ou entidade.

Estruturalmente constitutivo, o virtual pode ser abordado, interpretado e compreendido, a partir dos pontos, ou marcadores, rotativos que configuram as relações diferenciais (co)implicadas, deslocadas na teia gravítica composta pelo real virtual, ele mesmo, e pelo real actual, ao qual o real virtual, irredutivelmente, se opõe.

O traçado é local, região a região, passo a passo, cruzando o situacional com o processual: linhas que ligam uma região a outra, traçadas pelas multiplicidades actuais e virtuais, que constituem a teia gravítica do real sistémico, ele mesmo, e a partir das quais o actual e o virtual traçam os seus circuitos dinâmicos, coexistentes e relacionais, de permanentes reenvios.

A partir do momento em que é possível pensar o virtual e o actual, enquanto opostos individuados, torna-se pertinente identificar a linha de fronteira que os separa.

Segundo Deleuze, (Mille Plateaux), a distinção entre o virtual e o real corresponde a uma cisão fundamental do Tempo: aquela, na qual, inserido na configuração do tempo presente, o passado se separa trajectivamente do mesmo presente, segundo valores variáveis críticos que formam, num espaço, uma fronteira sinalizada por uma descontinuidade, em que um sistema “salta” de um estado de equilíbrio para outro.

A fronteira entre o real actual e o real virtual tem o seu sítio nas linhas quebradas que podem ser descritas pelas variáveis, medidas por um tempo contínuo e unidireccional, as quais correspondem a momentos, referidos a tempos presentes. O real actual pode ser geometricamente capturado e descrito, enquanto o real virtual escapa a qualquer tentativa de captura geométrica que o exemplifique, podendo, apenas, ser descrito como agenciamento dinâmico não-geometrizável, no sentido em que as figuras se formam em fluxo permanente geridas por uma ontologia de passagem, cuja brevidade e complexidade de ligações escapam ao processamento cognitivo do observador humano.


O agenciamento é o co-funcionamento, é a «simpatia», a simbiose (Deleuze, Mille Plateaux). Num agenciamento há entes, ou entidades correlacionados(as) que podem ser físicos(as), biológicos(as), psíquicos(as), sociais, verbais ou verbalizáveis; e relações: relações de movimento e repouso, de velocidade ou lentidão, linhas flutuantes de Aiôn, cruzadas com as linhas fixas de Chronos, graus de potência, afecções e afectos.

terça-feira, 21 de abril de 2009

ser é ser com os outros, ser é ser entre os outros

Por: Maria Odete Madeira
O dizer do dito é, ele mesmo, um redizer assimétrico irredutível de proximidade relacional do outro ao mesmo e do mesmo ao outro, deslocador de uma (co)presença e (co)existência sistémica(s) de visibilidade intencional: a visibilidade do outro, dos outros, dos rostos, da diferença, das diferenças: a ontologia iterativa e interactiva do mostrativo, do monstrativo, do demonstrativo, do posto, do exposto (co)implicado(s) e (co)explicado(s); a ontologia da verdade relacional deslocada, da justiça, do bem, da ordem, em que o dizer do dito é, ele mesmo, o redizer da diferença irredutível como (co)presença: a presença do(s) outro(s), a presença do(s) mesmo(s).

Ser é ser com os outros, ser é ser entre os outros. A iteratividade e interactividade da presença introduz a (co)responsabilidade pela(s) diferença(s). A ressonância projectiva do verbo desloca o dizer e o redizer da responsabilidade, ela mesma, como presença e diferença deslocada do dizer do dito–ressonante–rotativo–original–pré-geométrico–assimétrico.

sábado, 11 de abril de 2009

vulnerabilidade - subjectividade - erro


Quer em termos científicos, quer em termos filosóficos, é legítima a afirmação de que todos os organismos são agentes/sujeitos produtores/criadores de conhecimento e de que todo o conhecimento incorpora a natureza subjectiva disposicional e expectacional dos agentes/sujeitos que intervêm na produção de conhecimento, podendo falar-se de objectividade, apenas, ao nível das redes intersubjectivas.

Qualquer organismo vivo é um organismo em situação e em processo de permanente aprendizagem, mantendo com o seu ambiente uma interface activa/reactiva, suportada por mecanismos genéticos evolutivos que misturam diferencialmente o local e o global, dobrando e desdobrando teias gravíticas de acontecimentos, acções, reacções e interacções que se deslocam permanentemente codificando sinais informacionais que podem ser captados e transformados em conhecimento estrategicamente útil para a sobrevivência sistémica de cada organismo.

É robusta a afirmação de Popper de que todo o conhecimento é sempre o crescimento de um conhecimento já existente e nenhum enunciado é detentor de tal coisa como verdades absolutas, podendo apenas falar-se de conhecimento provisório e de melhores ou piores teorias.

A vulnerabilidade, enquanto proprium constitutivo activo ligado às dinâmicas homeostáticas de todos os sistemas vivos, pode ser abordada como um "operador" com causalidade a níveis da subjectividade directamente responsável pela produção de erro(s) evidenciado(s) em todos os processos cognitivos .

Todos os organismos vivos, sem excepção, aprendem a resolver os seus problemas de sobrevivência, através de tentativas e erro.

Considerar que existem detentores únicos de verdades universais pré-dadas, tomadas como referências redutoras classificativamente hierarquizantes, é pouco sensato, ou mesmo contra-adaptativo, se considerarmos os comportamentos predadores sustentados pelos discursos de poder, apoiados por dogmas pretensamente iluminadores/iluminados que arrastam irresponsavelmente a rede ecossistémica para situações de insustentabilidade planetária que põem em causa a sobrevivência de todos.