sexta-feira, 27 de março de 2009

knowings of power and discourses of power

By: Maria Odete Madeira

The calculation of the appearing, distribution, and hierarchization of the species allows a statistical (or statistregical) fragmentation incorporated in the multiple memetic and mimetic discourses of power, supported by biostrategical maxims such as: "for you to live the other must die".

Direct or indirect murder, such as the exposure to death, or the multiplication of the risk of death are the elements privileged by the mechanisms of biopower, supported by techniques and technologies of surveillance and infinitesimal controls, regulated by discursive markers, manipulated from statistregical supports, stripped of ethical contents, such as: the inalienable absolute value of life, the right to life, to the respect for the differences, the altruism, the empathy, the solidarity, the responsibility.

Multiple knowings of power, multiple secret knowings that confront each other and segment each other, at the pace of the biostrategical relations, ever more tensional and ever more stripped of ethical content.

terça-feira, 24 de março de 2009

acerca do sentido da História em Paulo Orósio

Por: Maria Odete Madeira

A experiência moral cristã incorpora um sentido inevitável de cegueira humana (Collingwood, A Ideia de História) inerente a toda a acção, esta ideia de cegueira traduz uma incapacidade humana constitutiva, dramaticamente vivida na interioridade da fé cristã, modeladora dos acontecimentos e da luta tensional, operada no seio dos seguidores da mesma fé, os quais seguem uma marcha, um percurso que terminará num juízo final. O pensamento do historiador cristão não se inscreve nos ritmos naturais e cíclicos do tempo, mas num ritmo e num projecto direccionado para um fim irreversível, pensado na interioridade subjectiva da fé.

O Tempo, no qual opera uma eficácia de declínio, uma emergência de catástrofe, é percebido com um sentido ontológico e denso de inquietação, polarizada numa dinâmica operativa de bem e de mal, ocorrido numa contingência perturbadora da radical vulnerabilidade de todos os entes, que, enquanto tais, existem aí no mundo.

Um sentido da existência de um em si universal, acoplado a um sentimento centrado na existência de uma ideia de um Deus omnipotente e omnisciente, organiza todas as acções dos homens na História, as quais, acreditam os seguidores da fé cristã, não foram planeadas pelos seus intelectos, mas, sim, pelo intelecto divino, projectado a partir de uma ideia de Deus, comummente partilhada.

Deste modo, é assumido que as forças que actuam na História não têm origem na vontade dos homens, mas, sim, na vontade de Deus. A sabedoria, incorporada nas suas acções, não lhes pertence, não pertence ao seu livre arbítrio. Para os cristãos, esta é a sabedoria de Deus, por cuja Graça os desejos dos homens são dirigidos para fins considerados dignos, a partir de uma ideia de dignidade preestabelecida.

Os povos e as nações são assumidos como uma criação divina e aquilo que Deus cria pode ser por Deus modificado e reorientado para novos fins, através da intervenção da sua Graça.

Assim, numa linha cristã, o processo histórico não é a execução das intenções humanas, mas dos desígnios de Deus, os quais são um objectivo que os homens devem incorporar nas suas vontades. Estes devem agir para um fim, a saber: o cumprimento da vontade de Deus.

Há um tempo próprio no pensamento histórico cristão que se relaciona com o tempo e a sucessão dos acontecimentos e, assim, tempo cronológico. Os acontecimentos duram, apenas, o tempo necessário ao cumprimento dos desígnios de Deus, ocorrendo, o processo histórico, no seu movimento de transformação, segundo um movimento radical de vida e de morte.

No pensamento histórico de Paulo Orósio (História Contra os Pagãos), há um sentido profundo desta dinâmica, pensada a partir da queda do homem e este sentido percebemo-lo como um operador mental, capaz de formar sentimentos conscientes de culpa universal.

De acordo com os dogmas cristãos, todos somos culpados e responsáveis por essa queda, da qual, apenas, nos podemos libertar pela Graça. A comunidade humana é, de acordo com o pensamento de Orósio, uma comunidade que precisa de ser educada, que precisa de se aproximar de um universal de perfeição, aberto a todas as diversidades discursivas, a todos os credos.

A esperança é marcada por um sentimento de presença: a Graça que opera na História, como um tempo oportuno, um Kairos divino.

Orósio releva o sentido histórico cristão de providência que se inscreve nos sentimentos dos homens. Cada momento da História é portador de uma intenção, de um desígnio que deve ser percebido e interpretado à luz do intelecto.

Para os cristãos, o grande acontecimento da história dos homens foi o nascimento de Cristo, os acontecimentos que lhe foram anteriores prepararam e culminaram na sua vinda, com Cristo nasceu uma nova era na história da humanidade, uma era de causalidade universal, destinada a operar nas mentes e nas vidas dos homens.

De acordo com o pensamento cristão, Deus queria revelar-se a todos, por isso, tornou possível a concentração do poder num só homem e numa só cidade, a saber: Roma. Era, de acordo com Orósio, preciso que todos os homens se reunissem à volta das mesmas leis, que fossem iluminados pela mesma fé num mesmo Deus, aquele que, de acordo com o mesmo pensamento, verdadeiramente os criou e, perante o qual, todos eram iguais na sua humanidade.

Cristo foi, para os seguidores da fé cristã, a presença do infinito no finito, a presença efectiva da unidade na diversidade. A partir do nascimento de Cristo, uma ideia de igualdade na diversidade e na diferença tomou forma. Todos os homens puderam pensar-se como a diversidade e a diferença capaz de se juntar numa mesma ideia de unidade, sem nela ser subsumida, a saber: numa ideia de comunidade humana efectiva, partilhando dos mesmos sentimentos morais e dos mesmos sentimentos de fé.

segunda-feira, 23 de março de 2009

O poder: natureza, tipologia, topologia

Por: Maria Odete Madeira

A partir de Foucault, podemos abordar o poder como um feixe circulante, em exercício organizado de relações em rede, no qual estão dobradas, ou implicadas, múltiplas posições, constituídas como pontos de aplicação dinâmicos e reticulares que transitam e transumam por todo o corpo social.

Enquanto realidade actuante, o poder constitui uma externalização das forças, relacionais e interactivas nele implicadas, naquilo que podemos denominar o seu objecto, ou ponto de aplicação, no qual produz, trajectivamente, os seus efeitos reais, caracterizados por uma não-localidade, constituída por cruzamentos de acções e reacções múltiplas que têm a sua própria história, o seu próprio trajecto e as suas técnica e táctica.

Esta não-localidade rejeita a possibilidade de subsumir, num centro único, as múltiplas e heterogéneas linhas relacionais que constituem o feixe trajectivo que resulta da movimentação heterónima, permanente, instável e local, estrategicamente posicionada em rede, dos pontos comunicantes que configuram o poder.

O poder, conforme Foucault, não passa de um efeito de conjunto, traçado a partir de pontos móveis desigualmente trajectados, nos quais se apoia, fixando-os.

O poder não é uma instituição e não é uma estrutura, não é um certo poder de que alguns seriam dotados – é, apenas, um nome que se atribui a uma situação estratégica complexa numa determinada sociedade e que não é pensável em termos de um qualquer protótipo replicador e ordenador que exista e subsista em si e por si mesmo.

O global é um efeito do local. Mudando a configuração do local, igualmente, muda, também, a configuração do global, o global é sempre configurado interactivamente, a partir de múltiplos pontos locais espalhados pela rede que desempenham nas relações de poder, o papel de adversário, de alvo, de apoio, de pretexto para uma intervenção.

Não há, relativamente ao poder, e de acordo com Foucault, lugar de grande recusa – alma da revolta, centro de todas as rebeliões, lei pura do revolucionário, mas, sim, várias resistências locais possíveis, que podem configurar topologias irreconciliáveis diversas, divergentes, discordantes que se deslocam como múltiplos pontos de acção/reacção que funcionam como marcadores binários de irredutibilidade: o frente a frente irredutível que introduz clivagens, quebra unidades e suscita adesões paradigmáticas.

domingo, 8 de março de 2009

Digitizing the Continuum

by Carlos Pedro Gonçalves

The reign of the digital imposes itself with the digitocracy over the continuum. The mathematical continuum, irreducible to the countable, is negated as interdict, as dangerous illegality.

Of mathematics, it is demanded a logocentered logicity, a reifying and imprisoning reduction that strives to reduce the semantic to the syntactic and, thus, extends the formal incompleteness to a semantics that does not possess it.

The mathematical intuition is substituted by the cold deduction that, incapable of scaling new horizons because it lacks imaginative capability, does not explore the mathematical idea and its apprehension by the mathematician that intuits it in a sensual immediateness produced by an imaginative synthesis, idea, itself, by nature, irreducible to a logical logocentrism, as Gödel proved it.

To scale new horizons… to think beyond the barriers of the code… dangerous activities… incompatible with a digitocracy extended to the mathematical activity itself. The formal language ceases being just an instrument of discursive organization and of formalization auxiliary to the proof, to become an instrument of thought control.

From abstractive auxiliars, the language and the formal system become instruments of alienation of the mathematical thinking itself, that, to think the formal, empty of semantics, loses its object of intentionality – the mathematical object, in itself, as abstract object of thought, which, as Gödel proved it, is irreducible to the purely syntactic, to the purely logical.

To digitize the mathematical continuum in the mathematical discrete means to abolish, from the thought, a universe of thinkable forms, to impose the limit of the digital, useful to an effort of computative mechanocracy in which the instrument of the number abolishes the analogical and, thus, the interval itself and the continuum. Without interval, without continuum, without shades, without infinitesimal differences, without empty spaces, thought as empty spaces because continua of nothing. End of the différance towards the end of the différence.

Even if different, digitized, we come to occupy the same houses in the bar codes in which we become, clones in our condition of slaves to the digit.

Badly interpreted Gödel’s theorem, to justify that the notion itself of mathematical truth is reducible to a logical validity, in a first step towards the algorithmization of truth, of geometry, of the continuum, of the interval, of the grey, of the individual as individual, separated from the rest, and non-slaved to the number… and non-slaved to a machine incapable of imagining, incapable of innovating, incapable of jumping outside the tyranny of the formal system, itself limited in itself and right from the point in which it deals with the numbers themselves and with simple arithmetic.

The end of the mathematician (second target), as well as the end of the philosopher (first target) are the two first steps to abdicate from our thought and from those natural systems of systemic homeostasis, thinkable as antibodies that protect us from the dictatorships of the formal and of the machines as ends in themselves.

sábado, 7 de março de 2009

Digitalização do Contínuo

Carlos Pedro Gonçalves

O reino do digital impõe-se com a digitocracia sobre o contínuo. O contínuo matemático, irredutível ao contável, é negado como interdito, como ilegalidade perigosa.

Da matemática, é exigida uma logicidade logocentrada, uma redução reificante e aprisionadora que tenta reduzir o semântico ao sintáctico e, assim, estende a incompletude formal a uma semântica que não a possui.

A intuição matemática é substituída pela dedução fria, incapaz de escalar novos horizontes, porque não possui capacidade imaginativa, não explora a ideia matemática e a sua apreensão pelo matemático que a intui numa imediatez sensual produzida por uma síntese imaginativa, ideia, esta, por natureza, irredutível a um logocentrismo lógico, como o demonstrou Gödel.

Escalar novos horizontes… pensar para além das barreiras do código… actividades perigosas… incompatíveis com uma digitocracia alargada à própria actividade matemática. A linguagem formal deixa de ser somente um instrumento de organização discursiva e de formalização auxiliar à demonstração, para passar a ser um instrumento de controlo de pensamento.

De auxiliares abstractivos, a linguagem e o sistema formal passam a ser instrumentos de alienação do próprio pensamento matemático, que, para pensar o formal, vazio de semântica, perde o seu objecto de intencionalidade – o objecto matemático, em si mesmo, enquanto objecto abstracto de pensamento, o qual, como Gödel demonstrou, é irredutível ao puramente sintáctico, ao puramente lógico.

Digitalizar o contínuo matemático no discreto matemático significa abolir do pensamento um universo de formas pensáveis, para impor o limite do digital, útil a um esforço de mecanocracia computativa em que o instrumento do número abole o analógico e, assim, o próprio intervalo e o contínuo. Sem intervalo, sem contínuo, sem matizes, sem diferenças infinitesimais, sem espaços vazios pensados como espaços vazios porque contínuos de nada. Fim da différance para o fim da différence.

Ainda que diferentes, digitalizados, passamos a ocupar as mesmas casas nos códigos de barra em que nos tornamos, clones na nossa condição de escravos do dígito.

Teorema de Gödel mal interpretado para justificar que a própria noção de verdade matemática seja redutível a uma validade lógica, num primeiro passo para algoritmização da verdade, da geometria, do contínuo, do intervalo, do cinzento, do indivíduo enquanto indivíduo separado dos restantes, e não escravizado ao número… e não escravizado a uma máquina incapaz de imaginar, incapaz de inovar, incapaz de saltar para fora da tirania do sistema formal, ele próprio limitado em si mesmo, e desde logo, quando lidando com os próprios números e aritmética simples.

O fim do matemático (segundo alvo), assim como o fim do filósofo (primeiro alvo) são os dois primeiros passos para abdicarmos do nosso pensamento e daqueles sistemas naturais de homeostasia sistémica, pensáveis como anticorpos que nos protegem das ditaduras do formal e das máquinas enquanto fins em si mesmos.

quinta-feira, 5 de março de 2009

humanidade

Por: Maria Odete Madeira

O reconhecimento intersubjectivo da humanidade, em nós, como um telos constitutivo supremo que a vida nos doou, compromete-nos responsavelmente com o direito e o dever de defender a nossa humanidade como um bem que é nosso, que é incondicional e que é inalienável.