A experiência da autonomia da obra sobre o autor é partilhada por muitos autores como uma experiência de existência fundamental, estendida até limites de pensamento em que se duvida se foi o autor que escolheu o objecto sobre o qual quer trabalhar, ou se foi o objecto que escolheu o autor.
A percepção, o sentimento, o chamamento do pensamento e da palavra acerca da obra, por parte da obra que quer ser dita, que quer ser conhecida, transcendem quer a obra, quer o autor para espaços relacionais holográficos de transcendência noosférica, em que a obra e o autor se interconectam num tempo aion de responsabilidade, permanentemente retomada num Kairos discursivo, disponível para um Khronos de ocasião evolutiva expandida, em que os signos que configuram a obra se abrem a novos significados, a novas percepções, sentimentos e interpretações.
José Saramago, no lançamento do seu último livro “Caim”, formulou algumas frases que certamente ficarão retidas nos sulcos das memórias de alguns de nós, como por exemplo: “A Bíblia é um manual de maus costumes”; “Lê a Bíblia e perde a fé”; “(…) antes, da criação do Universo, Deus não fez nada (…) decidiu criar o Universo (…) não se sabe porquê (…) nem para quê. Fez (…), segundo a Bíblia, o Universo em seis dias (…) só seis dias. Descansou ao sétimo. Até hoje, nunca mais fez nada. Isto tem algum sentido?”
Para além das frases acabadas de citar, existe uma outra frase cuja intensidade não deixará de ser projectada e trajectada para planos noosféricos permanentemente disponíveis para um Khronos de ocasião evolutiva, a saber: “Eu tenho uma convicção profunda de que os livros dizem ao autor como querem ser escritos”.
http://aeiou.expresso.pt/saramago-a-biblia-e-um-manual-de-maus-costumes=f542180
http://www.youtube.com/watch?v=Vd3GBaZNtAw