Por: Maria Odete Madeira
O virtual, do latim virtualis com origem em virtus que significa força ou potência, incorpora disposicionalmente, enquanto diferencial constitutivo rotativo, cada existente, seja esse existente um processo, situação, ente ou entidade.
Estruturalmente constitutivo, o virtual pode ser abordado, interpretado e compreendido, a partir dos pontos, ou marcadores, rotativos que configuram as relações diferenciais (co)implicadas, deslocadas na teia gravítica composta pelo real virtual, ele mesmo, e pelo real actual, ao qual o real virtual, irredutivelmente, se opõe.
O traçado é local, região a região, passo a passo, cruzando o situacional com o processual: linhas que ligam uma região a outra, traçadas pelas multiplicidades actuais e virtuais, que constituem a teia gravítica do real sistémico, ele mesmo, e a partir das quais o actual e o virtual traçam os seus circuitos dinâmicos, coexistentes e relacionais, de permanentes reenvios.
A partir do momento em que é possível pensar o virtual e o actual, enquanto opostos individuados, torna-se pertinente identificar a linha de fronteira que os separa.
Segundo Deleuze, (Mille Plateaux), a distinção entre o virtual e o real corresponde a uma cisão fundamental do Tempo: aquela, na qual, inserido na configuração do tempo presente, o passado se separa trajectivamente do mesmo presente, segundo valores variáveis críticos que formam, num espaço, uma fronteira sinalizada por uma descontinuidade, em que um sistema “salta” de um estado de equilíbrio para outro.
A fronteira entre o real actual e o real virtual tem o seu sítio nas linhas quebradas que podem ser descritas pelas variáveis, medidas por um tempo contínuo e unidireccional, as quais correspondem a momentos, referidos a tempos presentes. O real actual pode ser geometricamente capturado e descrito, enquanto o real virtual escapa a qualquer tentativa de captura geométrica que o exemplifique, podendo, apenas, ser descrito como agenciamento dinâmico não-geometrizável, no sentido em que as figuras se formam em fluxo permanente geridas por uma ontologia de passagem, cuja brevidade e complexidade de ligações escapam ao processamento cognitivo do observador humano.
O agenciamento é o co-funcionamento, é a «simpatia», a simbiose (Deleuze, Mille Plateaux). Num agenciamento há entes, ou entidades correlacionados(as) que podem ser físicos(as), biológicos(as), psíquicos(as), sociais, verbais ou verbalizáveis; e relações: relações de movimento e repouso, de velocidade ou lentidão, linhas flutuantes de Aiôn, cruzadas com as linhas fixas de Chronos, graus de potência, afecções e afectos.